7 de julho de 2016

"Uma crença fantasiosa de uma direita delirante e absurdamente estúpida", critica o historiador

O historiador Leandro Karnal, pensador do primeiro time de intelectuais brasileiros, professor da Universidade Estadual de Campinas, curador de exposições de arte, doutor pela Universidade de São Paulo, autor de livros sobre ensino de História, bem como sobre História da América e História das Religiões, deu ontem (4) sua opinião sincera sobre o programa escola sem partido durante entrevista na TV Cultura, no Roda Viva:
"Escola sem partido é uma asneira sem tamanho, uma bobagem conservadora. Coisa de gente que não é formada na área e que decide ter uma ideia absurda: que é substituir o que eles imaginam que seja uma ideologia em sala de aula por outra ideologia, que é conservadora.
Eu já desafiei: me diga um fato histórico que não teve opção política? Cortaram a cabeça de Luis XVI, 21 de janeiro de 1793. Cortaram a cabeça de Maria Antonieta em 16 de outubro de 1793. Vamos dizer 'coitados dos reis' ou analisar como um processo de violência típico da revolução e assim por diante?
Não existe escola sem ideologia. Seria muito bom que um professor não impusesse apenas uma ideologia e que abrisse caminho sempre para o debate. Mas isso [a escola sem partido], é antes de tudo, uma crença fantasiosa de uma direita delirante e absurdamente estúpida de que a escola forme a cabeça das pessoas e que esses jovens saiam líderes sindicais. Os jovens tem sua própria opinião, ouvem o professor, vão dizer que o professor é tal partido.
Os jovens não são massa de manobra. Os pais e os professores sabem que os jovens têm sua própria opinião. Toda opinião é política - inclusive na escola sem partido. Eu gostaria de uma escola que suscitasse o debate, que colocasse um texto do século 19, de Stuart Mill falando do indivíduo, da liberdade e do mercado ao lado de um texto de Marx e que o aluno debatesse os dois textos.
Mas se o professor for militante de um partido de esquerda ou de centro também faz parte do processo. Isso não é ruim. A demonização da política é a pior herança dessa a ditadura militar que além de matar seres humanos provocou na educação um dano que ainda vai se arrastar para as próximas décadas."
Informações: Jornalistas Livres

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