7 de maio de 2017

Reconhecimento histórico contribui para o desenvolvimento local

Serra Preta encostada na Serra do Taquari
O pôr do sol diante do Tanque dos Milagres. Foto: Leide via Whatsapp
Que o Brasil nunca levou muito a sério seus bens culturais e históricos, todo mundo já sabe um pouco. Porém, ultimamente venho observando a corrida que muitos municípios vêm se esforçando para preservar, tombar e divulgar sua memória e riqueza cultural.

Nestes últimos anos, a Chapada Diamantina tem avançado neste quesito. Mas ainda Salvador e Recôncavo ganham as atenções do poder público. Não podia ser diferente. Nesses espaços começaram boa parte da história do Brasil, embora não sirva de desculpas para virar as costas da nossa vasta Bahia.

Hoje, desejo voltar a lembra do Tanque dos Milagres na cidade de Serra Preta, 150 km de Salvador. Como já escrevi aqui no blog, trata-se de uma nascente de riacho em decadência. Tenho tentado alertar o poder público sobre o abandono que vive este patrimônio que poucos baianos conhecem. Atualmente, o Tanque dos Milagres encontra-se poluído, coisificado e esquecido de sua importância. Mesmo assim, dificilmente seca, inclusive neste período de grande estiagem, que eliminou quase todos os espelhos d´água de Serra Preta.

Importância Histórica

Costumo dizer que o Tanque dos Milagres tem valor similar ao Dique do Tororó para Salvador. Esta nascente foi palco de grandes conflitos no século XVI. A luta por uma reserva de água no semiárido baiano não é fácil. Imagine se esta reserva se encontra num ponto estratégico, cercada de montanhas e uma densa floresta? Assim era o Tanque dos Milagres há três décadas. Suas águas alimentavam uma tribo dos Paiaiás, bem antes dos portugueses conquistarem a região.

O Tanque dos Milagres foi tomado a força pelos portugueses, que massacraram os Paiaiás. Muitos que passam as margens da lagoa, nem imagina a carnificina que foi ao redor. Construíram Engenho de açúcar, trouxeram negros africanos escravizados, fundaram a vila em 1722 e cercaram com o latifúndio que perdura até então.

A eugenia padecido pelos Paiaiás deu espaço para o sofrimento da negritude. Serra Preta hoje não se lembra dos Paiaiás, ignora a importância do Tanque dos Milagres, mas seu povo negro é a prova da resistência e das marcas de um passado relativamente recente para a história dos povos.

A dívida social é grande. Não vamos quebrar os retrovisores, mas vamos olhar para a frente. A riqueza da cidade de Serra Preta é sua história, sua arquitetura urbana e beleza natural. Neste contexto, o Tanque dos Milagres tem sua potencialidade imensurável. É preciso urgentemente que o poder público comece a intervir positivamente sobre este espelho d´água. Nosso povo precisa conhecer sua origem, transformando em lazer e turismo o que um dia foi palco de sangue. O Tanque dos Milagres que antes foi apenas de um povo, hoje pode ser sagrado para a diversidade cultural e merece ser restaurado. 


Mário Angelo S. Barreto
Professor de História, Acadêmico em Direito
 e Administrador deste blog



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