Professor faz provocação para que
alunos vistam camisa tricolor e permite consulta à Constituição. Até
torcedor do Vitória trajou uniforme do Bahia
Segunda-feira, 30 de setembro de 2013. Dia de prova na Faculdade Anísio
Teixeira, em Feira de Santana, a 110 quilômetros de Salvador. Sentado
atrás da mesa, o professor
Carlos Eduardo Araújo aguarda ansiosamente a turma do 4º semestre de
Direito. Cheio de orgulho, o primeiro aluno entra pela porta trazendo no
peito o símbolo do Bahia. Dois, três, quatro, cinco... Vários
universitários vêm em seguida, todos com a camisa do Tricolor. De
repente, a sala inteira fica em azul vermelho e branco. À primeira
vista, muitos imaginariam que se tratava de uma incrível obra do
destino, ou, quem sabe, um esforço conjunto tramado para homenagear o
clube do coração do professor. No entanto, a história tem origem em uma
provocação que, no fim das contas, conseguiu superar até velhas
rivalidades do futebol.
No dia da prova, turma compareceu em massa com a camisa do Bahia |
Tudo começou há algumas semanas, quando os alunos perguntaram ao professor Carlos Eduardo se a prova de Direito
Constitucional poderia ser realizada com consulta à Constituição. De
início, a relutância, já que não era costume realizar avaliações com a
permissão de auxílio. Em seguida, a ideia que deixou a turma de Direito
muito parecida com as arquibancadas da Fonte Nova em dia de jogo do
Bahia.
- Eles me pediram para utilizar a Constituição na prova. Não costumo
fazer prova com consulta. Então combinei com eles que autorizava, mas
com a contrapartida de que toda a turma vestisse a camisa do Bahia no
dia da prova. Eles sabem que sou um torcedor fanático. Foi muito legal.
Todos apareceram com a camisa do Bahia. Tinha torcedor de todos os
times, até torcedor do Vitória no meio. Todos foram tricolores por uma
noite – disse o professor Carlos Eduardo, aos risos enquanto conversava com a equipe do GLOBOESPORTE.COM.
Promessa feita, promessa cumprida. Com toda a turma devidamente
trajada, a prova foi feita com a consulta à Constituição. Após a
avaliação, tiveram início as brincadeiras, que tinham como alvo
principalmente os rubro-negros vestidos com as cores do Bahia.
Professor Carlos Eduardo diz que é apaixonado pelo Bahia (Foto: Reprodução / Twitter) |
- Foi muito engraçado. Tinha torcedor do Vitória que ficou dizendo que
precisaria tomar banho com desinfetante por ter vestido a camisa do
Bahia. Todo mundo brincou, levou na esportiva - contou.
Carlos Eduardo acredita que o episódio da ‘turma tricolor’ não ocorreu somente para que os alunos
tivessem a oportunidade de utilizar a Constituição na prova. Para o
professor, os estudantes também lhe prestaram um belo tributo de
despedida, já que este é o último semestre em que eles ficarão sob a sua
tutela.
- Acho que foi mais uma homenagem que eles fizeram para mim. Sou
professor desta turma tem três semestres consecutivos. Esse é o último
semestre que vou ficar com eles. Todos sabem do meu amor pelo Bahia.
Fazem gozação quando o meu time perde. Faço gozação quando o Bahia
ganha. Acho que não foi só pela Constituição. Também fizeram por mim –
comentou.
Ao postar a foto da ‘turma tricolor’ nas redes sociais, a repercussão
foi imediata. O professor conta que recebeu mensagens de várias partes
do país, algumas de torcedores do Bahia, outros vários do Flamengo,
assim como do Botafogo, Vasco, Corinthians e diversas outras equipes do
futebol brasileiro.
- Postei primeiro no Twitter. Foi muito rápido. Quando vi, já tinha
gente compartilhando minha foto, me parabenizando pela ideia. E não
foram só torcedores do Bahia. Foram de vários times – disse o professor
em tom de empolgação. Nesta manhã, o perfil oficial do Bahia no Facebook
publicou a foto tirada por Carlos Eduardo.
Para o professor, a história serve de exemplo de superação de antigas
rixas do futebol. Por uma noite, flamenguistas, botafoguenses,
corintianos, vascaínos e até os torcedores do Vitória da turma de 4º
semestre de Direito vestiram a camisa do Bahia, o que representou um ato de respeito e consideração ao próximo.
Turma reuniu até 'tricolores' que torcem para o Vitória (Foto: Reprodução / Twitter) |
- Acho que aquilo que não interfere no processo educacional é válido.
Fizemos uma avaliação de forma lúdica. Por isso acho que foi muito legal
esse feito de a turma toda vestir a camisa do Bahia. A rivalidade foi
deixada de lado. Futebol é, sobretudo, para ser feliz. E acho que
conseguimos isso ontem à noite. Todos brincaram e se respeitaram. Acho
que isso serve de exemplo – afirmou o professor, que também é
vice-presidente da Ordem dos Advogados de Feira de Santana. Aliás,
vice-presidente não. Sub-presidente, como ele faz questão de frisar.
- Vice é coisa de torcedor do Vitória. Sou sub-presidente – concluiu em meio a gargalhadas.
Informações: G1
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