25 de maio de 2012

AS MARGENS DO PROGRESSO: a beira da BA 52, moradores de Serra Preta apostam na agricultura para sobreviver

“Nunca recebi ajuda de ninguém, só de Deus”, questiona D. Junilha 

Mesmo sem apoio oficial, família acredita na lavroura para sobreviver

Sem terras, agricultores utilizam as margens da BA 52 para plantar

É só chegar o mês de maio que a família de Dona Junilha Nascimento começa a preparar a terra para o plantio. Sem propriedade rural, a família cultiva sua roça as margens da Estrada do Feijão, próximo ao Distrito de Bravo.

Dona Junilha e família moram na comunidade quilombola de Salgado, ainda não reconhecida pelo governo, em Serra Preta. Diz que planta todos os anos e nunca precisou comprar feijão, sempre colhe e armazena parte para se alimentar durante o intervalo da safra. 

Casebres ainda são comuns em Serra Preta

Durante o plantio, agricultores se alojam em casebres improvisados. “Nunca recebi ajuda de ninguém, só de Deus”, afirma D. Junilha. Em Serra Preta, não há uma política agrícola eficaz desenvolvida por parte do governo. Os trabalhadores rurais vivem a mercê do tempo. Doença de Chagas ainda é comum no município, fruto de moradia improvisada, que facilita a permanência do barbeiro, inseto hematófago, transmissor da doença.

Sem moradia digna e nem terra própria para plantar, os pequenos agricultores de Serra Preta são os verdadeiros sem terras brasileiros. Vivem quase de forma muito simples, semelhante aos anos 30. Durante a seca, como estão enfrentando agora, vivem da sorte. A falta de organização política talvez seja um dos principais motivos para a desatenção do Governo. O pior é que quando a idade está avançada têm dificuldades em juntar provas para se aposentar como trabalhador rural, sendo vítimas dos caprichos de líderes sindicais e imcompreensão judicial. 

Cadê a Reforma Agrária...
                                                                                                      Foto: internet
Presidente João Goulart, em comício, promete a reforma agrária

Durante o governo de João Goulart, 1961 a 1964, este já previa a desapropriação das áreas rurais inexploradas ou exploradas contrariamente à função social da propriedade, situadas às margens dos eixos rodoviários e ferroviários federais, e as terras beneficiadas ou recuperadas por investimentos da União em obras de irrigação, drenagem e construção de açudes.

O Golpe dos Militares de 1964, com o apoio dos Estados Unidos, derrubou o governo de Goulart. O projeto foi esquecido. Com a queda dos Militares do poder em 1985, a democracia foi retomada, mas nenhum presidente ainda foi capaz de encarrar a reforma agrária de forma séria. Muitos trabalhadores rurais vivem da aposentadoria dos pais e da bolsa família, ações governamentais importantes, mas que não acabam com a miséria secular nordestina.


Fotos e Informações: Zelito Leite


4 comentários:

  1. Excelente matéria. Parabéns!

    É triste ver que problemas estruturais de décadas ainda não foram resolvidos em Serra Preta, em muito por conta da alta concentração fundiária.

    Entra governo, sai governo, a história continua a mesma.

    ResponderExcluir
  2. Excelente matéria!!! Serra Preta parou no tempo e ninguém faz nada. Desejo força a esses trabalhadores honestos.

    ResponderExcluir
  3. Mateus Lima29 maio, 2012

    Parabéns pela reportagem! Essa sim uma matéria jornalistica sem cunho partidarista, informativa e esclarecedora da real situação agrária, ou seja, situação do município que é essencialmente agrário. Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  4. Zelito Leite31 maio, 2012

    Na China obrigatoriamente, todo cidadão antes de escolher uma profissão, tem que entender o bastante sobre a riqueza que a terra pode produzir, para depois então escolher a profissão que mais lhe convém, portanto nenhum médico, professor, cientista e etc se formará sem esses conhecimentos obrigatórios.

    ResponderExcluir

Participe do blog deixando sua mensagem, nome e localidade de onde escreve. Agradecemos.