Victor, Filipe, Ângelo e Mário Ângelo cobram auditoria da dívida pública. |
Sempre que é possível participo da “Mudança do Garcia”,
bloco popular do carnaval de Salvador, que tem como grande característica a confecção de placas com frases críticas e atuais. Este ano não foi diferente e lá fui eu
apreciar, se divertir, protestar e ler as placas com frases da “Mudança”.
Até que o aperto estava
suportável, para os padrões da festa baiana, e deu para apreciar os camarotes,
as pessoas, as músicas, os artistas... Os artistas me chamaram a atenção. Quase
todos que eu ouvi davam uma paradinha na frente do camarote do prefeito ACM
Neto e se “ajoelhavam” de elogios. Em
alta popularidade e a galera do CAB em baixa, os artistas garantiam um possível
futuro na corte. Sair na TV da família
faz bem. A sorte não chega para todos. Nem todos desejam mais se submeter ao
dedinho de nossa senhora de Fátima.
Política a parte, eu queria mesmo era me divertir. E logo
meu amigo Filipe Leão tratou de melhorar as coisas: - vamos beber! Pensei em Daniel,
meu filho. Estava dirigindo. Mas a sede era grande. E água mesmo só no
brinquedo das Muquiranas. Falar em Muquirana, Filipe fez sucesso! Alegre, abriu
logo o bolso e pagou todas as cervejas. Meu xará, Ângelo, rejeitou a gelada. Achei que
ele não queria contribuir com o monopólio da cervejaria. Mesmo dirigindo (que
não seja exemplo pra ninguém), lembrei que de graça até injeção na testa. Não é
que um folião recebeu gratuitamente uma latinha na testa?! Estava próximo de mim.
O sangue desceu. Quem jogou foi algum membro das Muquiranas. Ainda bem que o azarado não era cinegrafista. Pensei no mensalão, mas não
se tratava de quadrilha. O ferido teve o apoio de outros membros das
Muquiranas, que foram solidários e colocaram gelo na testa da vítima.
Esfriado as coisas, eu queria mesmo era ler as frases das
placas. E logo falei para Victor Paulo: - não li nada crítico ainda. O “lepo,
lepo” tá ganhando da “Mudança”. Victor, que não enxerga bem, logo ouviu uma bandinha,
participando da “Mudança”, cantado o jingles da campanha de ACM das eleições de
1990. Aquela de Chocolate da Bahia, “ACM meu amor”... Logo indaguei que a “Mudança”
mudou mesmo. A Mudança tava paz e amor. Até mesmo com o PT pegou leve. Só uma
frase que dizia que “não foi o PT quem inventou a corrupção, mas a encontrou e
gostou” (mais ou menos assim). Não sei se tinha alguma relação, mas no 'minitrio'
da Mudança havia uma propaganda do governo do Estado.
Porém, acho que eu era uma ilha junto com meus colegas. Ninguém
sabia dançar a música tocada. Quem dança bem é o PMDB: um passo pra lá e outro
pra cá. Filipe tá careca de saber disso, mas não perde a esperança. Para
completar, ele organizou o bloco “Auditoria Cidadã da Dívida”. Ele disse que
nesta festa técnica, quem dança mesmo é o povo. Foi logo me doando uma camiseta
cinza do bloco. A frase da camiseta criticava os gastos com a dívida pública e
cobrava uma auditoria popular das finanças. A camiseta era bem bolada, cor
cinza - a cor do cérebro. Mas o povo no carnaval gosta mesmo é da cor da carne:
vermelho. Nosso bloco passou quase invisível. Nenhum artista baiano mandou
aquele abraço – ainda bem que temos facebook. O povo da direita que lia nossa
camiseta não gostava (deveria ter papéis do governo); o povo do governo que lia
também fechava a cara. Ficamos entre as cordas, onde a maioria só queria um
lepo, lepo.
Certamente, na quarta-feira de carnaval, o governo pega a
grana do carro e do teto e paga os juros da dívida pública. A música do
carnaval não podia ser outra. Perfeita, gênio esse cantor do Psirico! Mas falar
a verdade, o Brasil parece não ter jeito mesmo. É futebol e carnaval. Só fico
neste país porque gosto! Diferente de boa parte da base aliada, que só fica com
Dilma porque ela tem carro e teto. Bom final de carnaval para todos – em junho
tem copa do mundo!
Encontro da Banda Senzala
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