18 de agosto de 2013

Secretário aceita desafio e pega ônibus na hora de pico em Pirajá

Convidado pelo CORREIO, José Carlos Aleluia embarcou às 7h04 no coletivo da empresa Barramar, para uma viagem de Pirajá até o Rio Vermelho


Secretário pergunta à usuária sobre rotina da linha e serviço; na sexta, viagem atípica durou cerca de 1 hora

Victor Uchôa

“Rapaz, tá grande essa fila viu!”, disse José Carlos às 6h55 na Estação Pirajá. A exclamação poderia partir de qualquer José Carlos, Maria, Dalva ou Antônio que, diariamente, se espremem para subir em um coletivo na segunda maior estação  de transbordo de Salvador. 

Na última sexta-feira, porém, a exclamação partiu de um José Carlos específico: o Aleluia, secretário municipal de Urbanismo e Transporte. Convidado pelo CORREIO, o titular da Semut embarcou às 7h04 no coletivo da empresa Barramar, linha 1336, para uma viagem de Pirajá até o Rio Vermelho. 

Num dia atípico, em que o ônibus saiu da estação cheio, mas não lotado, e até o trânsito de Salvador colaborou, Aleluia não demorou para constatar: “Ficamos em pé, mas até que não está desconfortável. Sei que isso não é normal”.

Quem convive com o normal é o eletricista Roque Amorim, morador de Campinas de Pirajá. Todos os dias, pega na estação um ônibus que passa pelo Itaigara. Para Roque, um dia como ontem é mesmo exceção. “Só tem ônibus velho. Todo dia é um aperto, até pra entrar é difícil. Hoje, eu nem tô entendendo”, disse.
Logo em seguida, Roque passou o dedo no corrimão e achou vestígios do que é “normal”. “Ó pra essa sujeira. Isso é um absurdo. Esse é o ônibus que a gente anda”, reclamou.

Ao ouvir a queixa, Aleluia disse que a limpeza dos veículos é uma preocupação dos fiscais da prefeitura, mas reconheceu que é preciso mais rigor: “As empresas têm que botar ônibus limpo. Esse aqui mesmo não está tão sujo, mas era pra estar melhor”.

Apoiado na barra do coletivo, o secretário ia olhando a cidade do lado de fora. Primeiro, observou a pequena retenção do tráfego na descida da Jaqueira do Carneiro para a BR-324. No Acesso Norte, quando o fluxo deu sinal de piora, lembrou do que se vê no cotidiano da capital baiana. “Todas as vias de Salvador são interligadas. Qualquer coisinha, para tudo. Tem muito carro na rua. O carro está se tornando proibitivo”.

Licitação  

Para ele, que pretende até o final deste mês abrir a consulta pública que vai anteceder a licitação do transporte coletivo de Salvador, é preciso elevar a qualidade dos ônibus e diminuir o tempo das viagens para que toda a população — e não só as classes mais baixas — veja o sistema como opção.

“Temos que criar a integração dos ônibus. As pessoas vão fazer baldeação (troca), mas a viagem vai ser mais rápida. Não precisamos de tantas linhas. Essas linhas só atendem a interesses das empresas. As linhas vão deixar de ter dono”, afirmou.

O coletivo seguia lento, mas sem encontrar grandes congestionamentos. Passou pela Avenida ACM e, na Juracy Magalhães Jr., retornou para pegar o Itaigara. Ali, às 7h45, até o motorista Moisés da Cruz Silva externou surpresa. “Uma hora dessa, normalmente eu ainda tava saindo da BR pra descer ali na ACM”. “Demos foi sorte”, comentou Aleluia com o assessor que o acompanhava.

A sorte ajudou com o trânsito e com a (baixa) lotação do ônibus, mas conforto não é questão de sorte. E quem anda de ônibus em Salvador sabe que, com sol, o calor é cruel. Com chuva, nem se fala.

Quentura  

Na sexta, mesmo sem o sol escaldante ou a chuva que obriga a lacrar as janelas, a quentura incomodou os passageiros e o secretário. “Precisamos de ônibus climatizados. Depois da licitação, as linhas principais terão ar-condicionado”, promete.

A sorte também não dissipou o engarrafamento do Rio Vermelho. Ao avistar a situação do trânsito ainda na Rua Visconde de Itaborahy, em Amaralina, Aleluia pensou alto: “Esse Rio Vermelho não tem jeito!”. E emendou: “Tem que tirar os carros da rua. Veja quantos carros atrapalhando os ônibus”.  

Então, às 8h15, na Rua Oswaldo Cruz, o secretário saltou. Dali, o coletivo retornaria pela Rua Marquês de Monte Santo para viajar até Pirajá. “Foi rápido. Todo dia são quase três horas pra chegar aqui nesse horário”, disse o motorista Moisés.

Com um compromisso marcado às 10h no CAB, Aleluia despediu-se do CORREIO com a intenção de passar em casa para “trocar de roupa”. “Deus ajuda quem cedo madruga. São oito e pouca e veja quanta coisa já fizemos”, comemorou na partida. O secretário chegou a tempo no CAB, mas foi de carro.

Para esta viagem, o CORREIO também convidou o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Público de Salvador (Setps), Horácio Brasil, mas ele sugeriu acompanhar o trajeto em veículo particular. “Ir no ônibus? Pra que isso?”, questionou. ‘Só pra ver como é’ seria uma boa resposta.

Para secretário, PMs devem rodar dentro de coletivo na madrugada
 
Uma queixa comum entre os usuários de ônibus em Salvador é falta de transporte na madrugada. Para Aleluia, esse pedido só pode ser atendido se houver mais segurança para motoristas, cobradores e passageiros. “Só posso exigir que os ônibus circulem durante a noite com apoio da polícia. Precisamos de uma dupla de PMs em cada coletivo”, disse Aleluia, que ainda não fez a solicitação à Secretaria da Segurança Pública. 

Procurado, o assessor de comunicação da PM, capitão Marcelo Pitta, disse que, de antemão, não há nenhum impedimento para um acordo. “Precisamos receber a solicitação formal. Aí, vamos discutir a quantidade de ônibus, porque é preciso haver um planejamento”, disse. 

Enquanto a parceria não é firmada, está em atividade a Operação Gêmeos, unidade da PM voltada para ações em coletivos, pontos e estações. De acordo com a corporação, a Gêmeos conta com 17 viaturas e 126 policiais. 


 

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