16 de dezembro de 2016

Capina do Monte de Serra Preta desafia o tempo e a opressão

Capina do Monte será valorizada, segundo prefeito eleito Aldinho.
Foto: Facebook de Elizeu Santana
A festa não pode morrer. Essa foi à frase que mais se ouviu durante a festa centenária em Serra Preta, 148 km de Salvador. A tradicional Capina do Monte acontece todo dia 15 de dezembro e ontem não foi diferente. Sob um sol forte, trabalhadores rurais e simpatizantes subiram o monte na cidade de Serra Preta, rezando e capinando uma rústica estrada que começa da base e vai até o cume. Em seguida, uma pequena charanga percorre as ruas da charmosa cidade do século XVIII.

Não se sabe ao certo a origem da festa. Mas não há dúvida de que se trata de uma festa promovida pela comunidade negra, que compõe absolutamente a população local. A cidade de Serra Preta, com menos de mil habitantes, é um local tipicamente descendentes de escravos negros. O vereador Sérgio Moreira (PT), defensor das políticas afirmativas para a negritude, afirma que a festa da Capina do Monte vai para além da festividade e dos adereços. Para Moreira, a festa surge em comemoração à abolição da escravatura em 1888.
Para o vereador Sérgio Moreira, a Capina do Monte vai além de uma simples festa
Segundo Sérgio Moreira, negar a origem do evento ou mesmo relativizar absolutamente os principais atores da festa, é tentar de alguma forma ignorar a luta de resistência e o sofrimento que a comunidade negra de Serra Preta viveu e vive, mesmo com a libertação do século XIX. De fato, os elementos Intrínsecos e extrínsecos que compõem a Capina do Monte, evidenciam as tradições negras, embora haja uma forte presença do sincretismo religioso católico.

A festa da Capina do Monte, ainda que de forma inconsciente dos participantes, exterioriza a dominação centenária do local. A cidade de Serra Preta não se desenvolveu por causa da continuidade do latifúndio que certa a cidade. Fazendas de uma elite baiana controlam quase que toda a terra produtiva ao redou da cidade. A cidade de Serra Preta é uma ilha, com sua gente empobrecida, cravada no latifúndio. Apenas uma terra pública, chamada de Caboronga, é disponibilizada para o plantio de subsistência. 

Liberdade e Resistência

De costa, o prefeito eleito Aldinho observa o samba de roda da Capina do Monte
Se a Capina do Monte teve sua origem na libertação dos negros do julgo português e seus descendentes, a manutenção é um verdadeiro desafio. Talvez, os aspectos a ser valorizados não atraem o grande capital rural, nem mesmo o poder público. Com já afirmamos diversas vezes, a Capina do Monte fica menor a cada ano que passa. Até que em 2016, a festa foi animada, mas está longe de ser o que a população relata das festas anteriores.

Praticamente, às 16h a festa acaba. Não há atração de um grande público. Para os organizadores, o fato de a festa acontecer no meio de semana, dificulta a presença de trabalhadores e turistas. Para sanar este obstáculo, os organizadores, através de consulta popular, conseguiram mudar a festa para todo o segundo domingo do mês de dezembro. Parece simples, mas a alteração da data sofreu resistência de moradores, que acreditam que pode quebrar a tradição.
Com jovens e crianças, Aldinho se comprometeu a fortalecer o evento a partir de 2017
Outro problema enfrentado é a falta de patrocinadores. A prefeitura local pouco ajuda. Porém, é fácil perceber a presença de diversas lideranças políticas em busca de promoção pessoal. Muitos apenas marcam presença, pagam bebidas em bares locais e somem.

Este ano, o prefeito eleito Aldinho esteve no evento e se comprometeu a disponibilizar a estrutura básica do poder público em prol da Capina do Monte. Na verdade, o compromisso de Aldinho é grandioso para a Sede do município, já que tem a missão do tombamento da cidade e de suas tradições. “Para o próximo ano, me comprometo de imediato com a logística de transporte, alimentação e apoio para as atrações musicais. Nossa gestão vai priorizar a Capina do Monte e ajudar o evento a ter o lugar que a festa merece em nosso calendário municipal”, afirmou.

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